Repensando os seguros: Gerry Hassett fala sobre como lidar com a mudança e cultivar a inovação
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Gerry Hassett, com mais de 30 anos no setor de seguros, tem uma vasta experiência em seguros de vida e saúde em empresas proeminentes como a Irish Life na Irlanda e a Great-West Life no Canadá. Ele também atuou como presidente da Insurance Ireland e fundou a Insurtech.ie, uma organização sem fins lucrativos que visa aprimorar a colaboração entre seguradoras irlandesas e startups para impulsionar a inovação e a digitalização.
Gerry, você pode descrever o cenário atual do setor de seguros e como ele evoluiu ao longo dos anos?
Gerry: O setor de seguros está enfrentando uma transformação crucial. Tradicionalmente, o setor está atrasado na adaptação às inovações digitais em comparação com outros setores. Esse atraso representa um risco, pois os consumidores não comparam mais seguradoras diferentes, mas esperam uma experiência equivalente à que recebem de outros prestadores de serviços ou mesmo de plataformas de comércio eletrônico. A visão interna das seguradoras geralmente apresenta grandes barreiras à mudança em relação a plataformas legadas rígidas e pesados encargos regulatórios, o que complica a realização de pequenas mudanças. Assim, as seguradoras se deparam com o duplo desafio de aumentar as expectativas dos consumidores e pressões regulatórias significativas, que sufocam a tão necessária inovação e transformação digital.
Além dos desafios regulatórios, quais outros obstáculos as seguradoras estão enfrentando atualmente?
Gerry: Outro grande desafio é a lucratividade. O mercado está saturado, com a oferta excedendo a demanda. Esse problema é exacerbado no Reino Unido, por exemplo, onde 92% do seguro automóvel e 70% do seguro residencial são adquiridos por meio de sites de comparação de preços, intensificando a concorrência de preços e reduzindo as margens de lucro. Consequentemente, as seguradoras estão presas em um ciclo em que precisam demonstrar retornos sobre capital substancial e, ao mesmo tempo, serem incapazes de buscar inovações ágeis que possam aumentar a lucratividade e a satisfação do consumidor.
Esse ambiente contribuiu para a tendência de consolidação do mercado que estamos vendo?
Gerry: Absolutamente Muitas seguradoras estão recorrendo à consolidação como uma estratégia para gerenciar custos e melhorar a eficiência operacional. Depois de várias medidas internas de corte de custos, a fusão ou aquisição de outra empresa geralmente aparece como uma das poucas alavancas restantes a serem usadas para reduzir ainda mais as despesas e potencialmente ganhar poder de mercado, embora a última geralmente se revele uma percepção e não uma realidade.
Existem diferenças notáveis nos mercados de seguros nos EUA, Reino Unido, Irlanda e Europa?
Gerry: Curiosamente, apesar das impressões iniciais de que os EUA podem estar à frente em inovação, eles enfrentam as mesmas pressões que a Europa. O mercado do Reino Unido é provavelmente o mais competitivo devido ao uso extensivo de sites de comparação de preços, levando as seguradoras a encontrar eficiências de forma agressiva. No entanto, em geral, os desafios da pressão de preços, dos encargos regulatórios e das demandas dos consumidores são bastante consistentes nesses mercados.
E quanto às perspectivas de crescimento em mercados emergentes como Ásia e África?
Gerry: Os mercados emergentes oferecem um contraste gritante porque estão em uma fase de crescimento e não de maturidade. Esse crescimento permite mais flexibilidade e inovação, ao contrário dos mercados maduros, onde a concorrência envolve principalmente a obtenção de participação de mercado diretamente dos players existentes. O rápido crescimento em regiões como o Oriente Médio e partes da Ásia promove um ambiente mais propício à adoção de novas tecnologias e modelos de negócios.
Com o surgimento da IA e da ciência de dados, como você vê essas tecnologias impactando o setor?
Gerry: A IA e a ciência de dados são cruciais para o futuro dos seguros. Embora as seguradoras tenham uma base sólida em análise de dados, graças à importância histórica dos atuários e profissionais de risco, o setor carece de recursos internos para desenvolver soluções tecnológicas de ponta. Portanto, colaborar com startups e inovadores tecnológicos que possam trazer agilidade e novas ideias é essencial. Essa abordagem é cada vez mais reconhecida e adotada entre os CEOs de seguros que entendem que seus sistemas legados não estão equipados para inovações rápidas.
Quais você prevê que serão as tendências mais disruptivas em seguros na próxima década?
Gerry: O seguro incorporado está pronto para revolucionar o setor. Atualmente, representa uma pequena parcela do mercado, mas espera-se que cresça significativamente, integrando perfeitamente o seguro aos produtos e serviços. Essa tendência provavelmente interromperá os canais de distribuição tradicionais e possibilitará novas cadeias de valor, tornando o seguro mais intuitivo e alinhado às necessidades dos clientes, especialmente em setores como o automotivo, onde o seguro pode ser agrupado diretamente no ponto de venda.
Gerry, alguma ideia final que você gostaria de compartilhar com nossos leitores?
Gerry: O setor de seguros deve adotar a inovação e se adaptar às mudanças nas expectativas dos consumidores e aos avanços tecnológicos, caso contrário, enfrentará o declínio gradual de novos concorrentes. A colaboração com empresas de tecnologia e startups não é apenas benéfica; é fundamental para a sobrevivência nesse cenário em rápida evolução.